O trevo-vermelho (Trifolium pratense) é uma planta de ampla distribuição geográfica, conhecida tanto por seu uso forrageiro quanto por suas propriedades medicinais. Há séculos, essa leguminosa tem sido utilizada na medicina tradicional para tratar diversas condições, desde problemas respiratórios até sintomas da menopausa. Seu alto teor de isoflavonas, compostos bioativos com ação estrogênica, tem atraído o interesse científico, especialmente em pesquisas sobre saúde cardiovascular, óssea e hormonal.
Neste artigo, exploramos as propriedades terapêuticas do trevo-vermelho, suas indicações, contraindicações e evidências científicas sobre seu uso.
Descrição botânica e habitat
O trevo-vermelho pertence à família Fabaceae e é popularmente conhecido como pé-de-lebre, trevo-comum, trevo-dos-prados, trevo-ribeiro e trevo-roxo. É uma planta herbácea perene que cresce principalmente em solos arenosos e leves, sendo encontrada em campos, campinas e margens de rios. Possui folhas trifoliadas e flores dispostas em capítulos ovais, que variam entre o vermelho e o púrpura, medindo cerca de 2,5 cm de comprimento.
Originário da Europa e da Ásia, o trevo-vermelho foi amplamente disseminado na América, onde se naturalizou e passou a integrar a alimentação animal devido à sua riqueza nutricional.
Uso histórico e medicina tradicional
As flores secas do trevo-vermelho são utilizadas há séculos na fitoterapia para uma ampla gama de condições. Tradicionalmente, acredita-se que a planta purifica o sangue, estimula a diurese, melhora a circulação e auxilia na produção de bile.
Externamente, pomadas e cataplasmas preparados com o trevo-vermelho foram empregados para tratar feridas, eczema, psoríase e coceiras. Infusões das flores eram administradas para aliviar problemas respiratórios, como bronquite e coqueluche. Além disso, fomentações eram aplicadas topicamente para o tratamento de tumores, embora a eficácia dessa abordagem careça de comprovação científica.
Propriedades e indicações terapêuticas
Os principais benefícios do trevo-vermelho decorrem da presença de isoflavonas, flavonoides e saponinas, que conferem à planta propriedades diuréticas, sedativas e hepatoprotetoras.
Indicações terapêuticas:
✅ Saúde da pele: alívio de dermatites, eczema e psoríase.
✅ Saúde respiratória: tratamento de bronquite, tosse e coqueluche, devido à sua ação expectorante.
✅ Saúde hormonal: alívio dos sintomas da menopausa, como ondas de calor e ressecamento vaginal.
✅ Saúde masculina: potencial redução da hiperplasia prostática benigna (HPB) e do risco de câncer de próstata.
✅ Saúde cardiovascular: melhora na elasticidade arterial e controle do colesterol HDL.
Por essas razões, o trevo-vermelho tem sido considerado um fitoterápico promissor no equilíbrio hormonal, principalmente para mulheres na menopausa.
Composição química e mecanismos de ação
O trevo-vermelho contém diversos compostos bioativos, sendo os mais importantes:
• Isoflavonas (fitoestrógenos): biochanina A, formononetina, genisteína e daidzeína, que mimetizam o estrogênio e regulam seus efeitos no organismo.
• Flavonoides: antioxidantes que auxiliam na proteção celular contra danos oxidativos.
• Cumarinas: compostos com leve efeito anticoagulante e anti-inflamatório.
• Saponinas: responsáveis por propriedades expectorantes e imunomoduladoras.
• Óleos essenciais e mucilagens: que atuam na hidratação das mucosas e na melhora da digestão.
A atividade estrogênica das isoflavonas tem sido amplamente estudada, especialmente no alívio dos sintomas da menopausa. Os fitoestrógenos se ligam aos receptores estrogênicos β, regulando a resposta hormonal de maneira seletiva.
Segurança, contraindicações e efeitos adversos
Embora o trevo-vermelho seja considerado seguro para a maioria das pessoas, algumas precauções devem ser observadas:
🔴 Contraindicações:
• Mulheres com histórico de câncer de mama, ovário ou endométrio.
• Gestantes e lactantes.
• Pacientes em uso de terapia hormonal ou contraceptivos orais.
⚠ Efeitos colaterais e interações medicamentosas:
• Em doses elevadas, pode causar dor abdominal, edema e perda de apetite.
• Seu uso concomitante com anticoagulantes pode potencializar o risco de sangramentos.
• Pode interferir na eficácia da terapia de reposição hormonal e de contraceptivos.
Estudos in vitro indicam que o trevo-vermelho pode estimular a proliferação de células cancerígenas sensíveis ao estrogênio. No entanto, ensaios clínicos de longo prazo ainda são necessários para confirmar essa relação.
Evidências científicas e estudos clínicos
Diversos estudos analisaram os efeitos do trevo-vermelho na saúde, especialmente em mulheres na menopausa.
• Menopausa: ensaios clínicos indicam que suplementos contendo 40 a 80 mg/dia de isoflavonas (Promensil, Rimostil) podem reduzir ondas de calor e melhorar a qualidade de vida de algumas mulheres. Entretanto, os resultados são inconsistentes, e a Sociedade Norte-Americana da Menopausa recomenda seu uso como terapia complementar.
• Saúde cardiovascular: pesquisas sugerem que o trevo-vermelho melhora a elasticidade arterial e pode reduzir discretamente os níveis de triglicerídeos em mulheres perimenopáusicas.
• Saúde óssea: um estudo clínico com 205 mulheres apontou que a suplementação com isoflavonas reduziu a perda de densidade mineral óssea na coluna lombar, mas sem efeitos significativos no quadril.
• Câncer de próstata: evidências preliminares sugerem que a biochanina A pode induzir apoptose em células cancerígenas de próstata, mas ainda não há consenso sobre seu efeito clínico.
Os resultados dos estudos são variados e, em alguns casos, conflitantes, demonstrando que o trevo-vermelho pode ser benéfico para certos grupos, mas não uma solução universal.
O trevo-vermelho é um fitoterápico promissor para o alívio dos sintomas da menopausa e pode apresentar benefícios cardiovasculares e ósseos. No entanto, seu uso deve ser criterioso, especialmente para pessoas com histórico de câncer hormônio-dependente ou que fazem terapia hormonal.
Antes de iniciar qualquer suplementação, é essencial consultar um profissional de saúde para avaliar os riscos e benefícios individuais.
Referências Bibliográficas
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