Dracontium asperum.
O Tajá de Cobra, também conhecido pelos nomes populares de erva-jararaca, jararaca-tajá, milho-de-cobra e tarumã, é uma planta que carrega consigo tanto o potencial para a cura quanto o risco de envenenamento. Originária das exuberantes florestas da Amazônia, esta planta faz parte da rica e complexa família das Araceae, sendo um exemplo fascinante da biodiversidade que caracteriza essa região do planeta.
A planta, que também atende pelo nome científico de Dracontium asperum, é uma erva tuberosa com uma morfologia peculiar. Sua folhagem, que pode alcançar até 3 metros de comprimento, é dotada de pecíolos robustos, medindo cerca de 4 centímetros de diâmetro. As folhas são amplas e longas, apresentando uma coloração que varia entre tons esverdeados, pardacentos e arroxeados. Na base dos pecíolos, pequenas protuberâncias agrupadas em longas séries alternadas são visíveis, contribuindo para sua aparência característica.
Além de suas folhas vistosas, o Tajá de Cobra é notável por suas lâminas foliares tripartidas, que chegam a um metro de diâmetro. Cada segmento da folha é bipartido, e essas divisões, por sua vez, são irregularmente pinatipartidas, criando uma estrutura complexa e intrigante. O ciclo de vida da planta inclui a formação de bulbilhos ao redor do tubérculo, que emergem das axilas dos restos de folhas mortas, permitindo a reprodução vegetativa. Este ciclo de reprodução vegetativa é vital para a sobrevivência da espécie, especialmente em um ambiente competitivo como a floresta amazônica.
No aspecto reprodutivo, o Tajá de Cobra produz pedúnculos que podem ultrapassar os 10 centímetros de comprimento, suportando flores hermafroditas com um perigônio composto por 5 a 9 pétalas. As tépalas, em formato unguiculata-espatulado, conferem à flor uma aparência única. A frutificação resulta em bagas turbinadas, que podem atingir entre 12 e 15 centímetros de comprimento e cerca de 10 milímetros de espessura. Suas sementes, reniformes, são uma parte crucial do ciclo de vida da planta, assegurando a perpetuação da espécie.
Apesar de ser uma planta tóxica, o Tajá de Cobra possui propriedades medicinais que têm sido exploradas por gerações de povos indígenas. Na medicina tradicional, várias partes da planta são utilizadas para fins terapêuticos, embora seu manuseio exige extremo cuidado devido à sua toxicidade.
As partes mais comumente utilizadas incluem o pecíolo, a planta inteira e o rizoma. Essas partes são associadas a propriedades depurativas, digestivas e diuréticas, sendo indicadas para o tratamento de uma variedade de condições, como asma, coqueluche, dermatose, mordedura de cobra, reumatismo e sífilis. Por exemplo, o suco da raiz, embora cáustico e tóxico, é aplicado externamente em casos de mordedura de cobra. O pó da raiz seca é utilizado no tratamento de amenorreia e clorose, enquanto a casca, preparada em decoto, é usada para tratar problemas digestivos, sífilis, dermatoses e reumatismo.
As folhas do Tajá de Cobra, quando preparadas em infusão, servem como depurativo e diurético. Já o tubérculo, em forma de pó, é indicado para o tratamento de coqueluche e asma. O pecíolo, tanto em suco quanto aplicado interna ou externamente, é utilizado no tratamento de mordedura de cobra, evidenciando a versatilidade medicinal desta planta.
O valor terapêutico do Tajá de Cobra é, em grande parte, atribuído à sua composição química, que inclui óleo essencial, pineno, canfeno-cineol e pectina. Estes compostos ativos são responsáveis pelas propriedades medicinais da planta, sendo fundamentais para o desenvolvimento de aplicações terapêuticas na medicina tradicional.
A taxonomia do gênero Dracontium, ao qual o Tajá de Cobra pertence, inclui várias espécies, como Dracontium asperum, Dracontium costarricense, Dracontium dressleri, Dracontium foetidus, Dracontium pentaphyllum, Dracontium pertusum e Dracontium polyphyllum. Cada uma dessas espécies possui características únicas, mas compartilham a complexidade morfológica e a importância medicinal que tornam o gênero Dracontium tão fascinante para botânicos e estudiosos da medicina natural.
Apesar de seu potencial medicinal, é crucial lembrar que o Tajá de Cobra é uma planta altamente tóxica, e seu uso deve ser restrito a pessoas com conhecimento adequado de suas propriedades e métodos de preparo. O manuseio inadequado pode levar a graves consequências, incluindo envenenamento.
O estudo e a preservação de plantas como o Tajá de Cobra são essenciais para a manutenção da biodiversidade e do conhecimento tradicional que tem sido transmitido por gerações. A floresta amazônica, com sua riqueza de espécies únicas, continua a ser uma fonte inesgotável de plantas com potencial medicinal, muitas das quais ainda aguardam para ser descobertas e estudadas.
Bibliografia:
K. Koch & G. A. Fintelmann, Wochenschr. Gärtnerei Pflanzenk. 2:259. 1859.
Ordem Aroideae em Jussieu, Antoine Laurent de (1789). “Genera Plantarum, secundum ordines naturales disposita juxta methodum in Horto Regio Parisiensi exaratam”
Assista a um vídeo com uma visão mística sobre o tajá e a planta cobra. Produzido para o blog “Herbologia Mística“, sobre a magia e as lendas que envolvem duas plantas brasileiras