Plantas Que Curam

Pimenta-de-Macaco (Piper aduncum): Usos e Benefícios Medicinais

A flora brasileira é rica em plantas com propriedades medicinais, muitas das quais são utilizadas há séculos por povos indígenas e comunidades tradicionais. Entre essas plantas, destaca-se a pimenta-de-macaco (Piper aduncum), uma espécie da família Piperaceae, conhecida por seus efeitos cicatrizantes, anti-inflamatórios e diuréticos. Popularmente, recebe diversos nomes, como aperta-ruão, pimenta-longa, tapa-buraco, jaborandi-do-mato e erva-de-jaboti.

Neste artigo, exploramos as características botânicas, o habitat, a história do uso medicinal e as aplicações terapêuticas dessa planta, além de discutir as evidências científicas disponíveis sobre sua farmacologia.

Descrição Botânica

O Piper aduncum é um arbusto de pequeno porte, que pode atingir até 1 metro de altura. Seus ramos são articulados e apresentam superfície rugosa. As folhas são oblongas, agudas, irregulares e arredondadas na base, com textura áspera na face superior e pubescente na inferior. A inflorescência ocorre em amentilhos longos e curvos, que carregam pequenos frutos em forma de espiga.

Os frutos, que são bagas ovoides, possuem sabor picante e acre, semelhante ao da pimenta-do-reino. Tanto as folhas quanto os frutos são utilizados para fins medicinais.

Distribuição e Habitat

A pimenta-de-macaco é amplamente distribuída na Mata Atlântica, sendo especialmente comum nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Além do Brasil, essa espécie também pode ser encontrada em outros países da América do Sul e Central, crescendo em solos úmidos e margens de rios.

História e Uso Tradicional

A origem do nome Piper aduncum remete ao sânscrito “pipali”, que faz referência a plantas do gênero Piper, conhecidas desde a antiguidade por suas propriedades medicinais.

Acredita-se que a planta tenha se popularizado como “mático” após ser descoberta por um soldado espanhol chamado Matico, que aprendeu com povos indígenas sobre sua eficácia para estancar sangramentos. Posteriormente, a planta foi introduzida na medicina europeia e americana no século XIX, sendo descrita por médicos como um hemostático e adstringente para feridas.

Em 1839, um médico de Liverpool foi um dos responsáveis por divulgar seu uso terapêutico, aumentando o interesse pela planta entre pesquisadores e fitoterapeutas.

Propriedades Medicinais

A pimenta-de-macaco é amplamente utilizada na medicina popular devido a seus diversos efeitos terapêuticos. Entre suas principais propriedades, destacam-se:

Adstringente – auxilia na cicatrização de feridas e na redução de secreções.

Diurético – promove a eliminação de líquidos, sendo útil para infecções urinárias.

Colagogo – estimula a secreção da bile, beneficiando o fígado.

Anti-inflamatório – ajuda a reduzir inflamações em diversas partes do corpo.

Tônico uterino – utilizado tradicionalmente no tratamento de prolapsos uterinos.

Anti-hemorrágico – empregado no combate a hemorragias e sangramentos internos.

Indicações e Formas de Uso

A planta pode ser utilizada de diversas formas, dependendo da condição a ser tratada:

✔️ Chá das folhas: usado no combate a hemorragias, diarreias e infecções hepáticas.

✔️ Banhos com as folhas: indicados para casos de prolapso uterino e infecções geniturinárias.

✔️ Lavagens intestinais: em casos de diarreias persistentes, adicionando-se uma pequena quantidade do pó das folhas.

✔️ Mastigação de folhas, cascas e frutos: ajuda a combater o mau hálito, promovendo um efeito refrescante na boca.

Receita de Chá Medicinal

Ingredientes:

• 2g de folhas secas (aproximadamente 1 colher de sopa)

• 1 xícara de água quente

Modo de preparo:

• Fazer uma infusão por cerca de 10 minutos e coar.

• Beber até 3 vezes ao dia, com intervalos menores que 12 horas para casos de diarreia e problemas hepáticos.

Nos casos mais graves, como diarreias persistentes, recomenda-se o uso da infusão em lavagens intestinais, adicionando 1 colher de café do pó das folhas.

Farmacologia e Estudos Científicos

Os estudos científicos sobre Piper aduncum indicam a presença de metabólitos secundários bioativos, como:

🔬 Flavonoides – com efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes.

🔬 Alcaloides – associados à ação antimicrobiana.

🔬 Óleos essenciais – com atividade antifúngica e bactericida.

A literatura compara os compostos bioativos da pimenta-de-macaco com os de outras espécies do gênero Piper, como Piper cubeba e Piper elongatum. No entanto, apesar das semelhanças botânicas, ainda há necessidade de mais estudos para confirmar se os princípios ativos e os efeitos farmacológicos dessas espécies são equivalentes.

De acordo com revisões científicas recentes, a planta tem demonstrado potencial antimicrobiano contra bactérias resistentes a antibióticos, tornando-se uma candidata promissora para novos medicamentos fitoterápicos (SOUZA et al., 2018; CARVALHO et al., 2021).

Posologia Recomendada

Para adultos, as doses geralmente recomendadas são:

🔹 Infusão de folhas secas: 2g por xícara, ingerida até 3 vezes ao dia.

🔹 Banhos terapêuticos: infusão concentrada para prolapso uterino e infecções geniturinárias.

🔹 Mastigação de folhas e frutos: para mau hálito e ação antisséptica bucal.

Vale lembrar que, apesar do uso tradicional, é essencial buscar orientação profissional antes de iniciar qualquer tratamento fitoterápico.

A pimenta-de-macaco é uma planta de grande importância na fitoterapia, amplamente utilizada como hemostático, anti-inflamatório e diurético. Seu uso remonta a séculos, tanto por povos indígenas quanto por médicos do século XIX.

Embora haja diversas evidências empíricas sobre sua eficácia, a pesquisa científica sobre seus princípios ativos ainda está em desenvolvimento. Assim, recomenda-se cautela e acompanhamento profissional para garantir o uso seguro dessa planta medicinal.

📖 Referências Bibliográficas

• CARVALHO, A. L. et al. Potencial antimicrobiano de Piper aduncum em bactérias multirresistentes. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 2021.

• SOUZA, M. F. et al. Estudos fitoquímicos e farmacológicos de Piperaceae: uma revisão científica. Journal of Ethnopharmacology, 2018.