O milho (Zea mays) é um dos cereais mais consumidos no mundo, sendo essencial para a alimentação humana e animal. No entanto, seu valor vai além da nutrição. As chamadas “barbas de milho”, aqueles fios sedosos e amarronzados que envolvem a espiga, possuem propriedades medicinais reconhecidas há séculos por diversas culturas. Empregadas principalmente como diurético natural, essas estruturas vegetais atuam no sistema urinário, ajudando na proteção dos rins e da bexiga.
Este artigo tem como objetivo explorar a origem, a composição química e os benefícios terapêuticos do milho, destacando o uso das suas barbas e derivados em tratamentos fitoterápicos.
Descrição Botânica e Taxonomia
Pertencente à família Poaceae (anteriormente conhecida como Gramineae), o milho é uma planta herbácea de grande porte, podendo atingir até 2,5 metros de altura. Seu caule ereto apresenta folhas alternadas, largas e lanceoladas, com bordas ásperas. As inflorescências masculinas formam panículas terminais, enquanto as femininas surgem em espigas rodeadas por brácteas membranosas, das quais emergem os estilos filiformes conhecidos como “barba de milho”.
O fruto é um cariópse arredondado e brilhante, de coloração amarelada, firmemente aderido ao eixo engrossado da inflorescência. Quanto à classificação botânica, o gênero Zea compreende diversas subespécies, incluindo:
- Zea mays ssp. mays
- Zea mays ssp. mexicana
- Zea diploperennis
- Zea luxurians
- Zea nicaraguensis
- Zea perennis
História e Origem
O milho desempenhou um papel fundamental na história da alimentação, sendo o cereal mais importante das civilizações pré-colombianas. Restos fósseis de pólen de milho, datados de aproximadamente 6.500 anos, foram encontrados em escavações arqueológicas. Os povos astecas e maias já dominavam o cultivo dessa planta, que foi posteriormente levada para a Europa por Cristóvão Colombo em sua segunda viagem ao continente americano, em 1502.
A difusão do milho foi rápida: espalhou-se pela Europa, norte da África e Ásia Ocidental no século XVI, chegando à China pouco tempo depois. Contudo, a sua origem exata ainda gera debates entre historiadores e botânicos. Algumas teorias indicam que o milho surgiu na América do Sul, mais especificamente no Peru ou na Colômbia, enquanto outros sugerem uma possível origem na América Central.
Usos Medicinais e Composição Química
As propriedades terapêuticas do milho se concentram principalmente nos estilos e estigmas (as barbas), assim como no óleo extraído do gérmen do grão. O uso medicinal das barbas de milho é amplamente documentado em diversas culturas, sendo aplicado no tratamento de infecções urinárias, inflamações e retenção de líquidos.
Principais Componentes Ativos
As barbas de milho contêm uma rica variedade de compostos bioativos, tais como:
- Saponinas (10%) – com ação diurética e expectorante.
- Flavonoides e antocianinas – antioxidantes naturais que auxiliam na proteção celular.
- Taninos (11-13%) – com propriedades adstringentes e anti-inflamatórias.
- Fitoesteróis (sitosterol e estigmasterol) – benéficos para a saúde cardiovascular.
- Ácido salicílico (0,3%) – com leve efeito analgésico e anti-inflamatório.
- Vitaminas C e K – essenciais para o sistema imunológico e a coagulação sanguínea.
Além disso, o grão de milho contém ácidos graxos poli-insaturados, como ácido linoleico (50%) e ácido oleico (37%), além de vitaminas do complexo B, fibras e sais minerais como ferro, cálcio e potássio.
Propriedades Terapêuticas
Os estilos e estigmas do milho possuem diversas propriedades medicinais:
- Diurético natural – auxilia na eliminação de toxinas e reduz a retenção de líquidos.
- Antiespasmódico – alivia cólicas renais e digestivas.
- Anti-inflamatório – reduz inflamações no trato urinário.
- Emenagogo – estimula o fluxo menstrual em casos de amenorreia.
Indicações e Formas de Uso
O uso mais comum das barbas de milho é em forma de infusão, geralmente preparada com 5 a 10% de material vegetal seco, ingerido de duas a três vezes ao dia. Essa preparação pode ser utilizada para tratar condições como:
- Cistite e uretrite
- Gota e ácido úrico elevado
- Hipertensão arterial
- Litíase urinária (cálculos renais)
- Edemas e retenção de líquidos
Uso Tradicional em Diferentes Culturas
Ao longo da história, diversas civilizações têm utilizado as partes medicinais do milho para tratamentos específicos:
- Haiti – sementes moídas são aplicadas localmente para auxiliar na consolidação de fraturas.
- Martinica – infusões são usadas para tratar sarampo.
- República Dominicana – barbas de milho são combinadas com Spermacoce surgens para aliviar cólicas renais.
- China – a bainha do grão é utilizada para tratar diarreia infantil.
- Cuba – cataplasmas feitos com sementes moídas são aplicados para tratar contusões e torções.
Óleo de Gérmen de Milho e Seus Benefícios
O óleo extraído do gérmen de milho é um dos subprodutos mais valiosos desse cereal. Produzido por prensagem e refino, ele é rico em gorduras insaturadas, principalmente ácidos oleico e linoleico, além de vitamina E e fitoesteróis. Seu consumo regular auxilia na:
- Redução do colesterol LDL (ruim)
- Prevenção de doenças cardiovasculares
- Melhoria da saúde da pele devido ao seu poder antioxidante
O milho é um dos alimentos mais versáteis da humanidade, indo muito além do seu papel na alimentação. Seus usos medicinais, especialmente os benefícios das barbas de milho, são amplamente reconhecidos por diferentes culturas ao longo da história. A fitoterapia moderna continua a valorizar esse recurso natural como um importante aliado no tratamento de afecções urinárias e inflamações.
Dessa forma, compreender e resgatar esses conhecimentos ancestrais pode ser um passo fundamental para o desenvolvimento de terapias naturais eficazes, que combinam ciência e tradição.
Referências Bibliográficas
- BERGEROT, Caroline. Cozinha Vegetariana – Milho. São Paulo: Cultrix, 2003.
- CHEVALLIER, Andrew. Plantas Medicinais: Guia Essencial. Civilização Editora, 2015.
- SMITH, Bruce D. The Emergence of Agriculture. Scientific American Library, 1995.
- SHAW, Robert. Maize and Grace: Africa’s Encounter with a New World Crop. Harvard University Press, 2008.