Anthemis cotula, também conhecida como camomila fétida, é uma planta da família das Asteraceae originária da Europa. Com flores pequenas e características que desabrocham na primavera, a planta é amplamente reconhecida e valorizada pela medicina tradicional devido aos seus efeitos terapêuticos em uma variedade de condições, particularmente nos sistemas digestivo e reprodutor. Neste artigo, exploraremos as propriedades medicinais, os componentes ativos e os diversos usos terapêuticos da Anthemis cotula, além de seu modo de preparo e formas de aplicação, com suporte em fontes históricas e estudos botânicos.

Características Botânicas da Anthemis Cotula

A Anthemis é uma planta herbácea de porte baixo, com altura média de 30 a 60 centímetros. As flores, que lembram a camomila devido à sua estrutura e cor, possuem um aroma forte e pouco agradável, o que lhe confere o nome de camomila fétida. Suas folhas são finas e recortadas, características das plantas da família Asteraceae. Encontrada em locais com boa exposição solar e solo bem drenado, a planta se adapta a diferentes condições climáticas, mas prefere climas temperados.

A Anthemis cotula é uma planta anual, o que significa que completa seu ciclo de vida em uma única estação de crescimento. Sua capacidade de adaptação contribuiu para sua ampla disseminação em diversas regiões, inclusive fora da Europa, onde se naturalizou em muitos locais.

Princípios Ativos e Composição Química

Entre os componentes químicos que conferem suas propriedades medicinais estão ácidos orgânicos, como o ácido oxálico e ácido tânico, e compostos voláteis, como óleos essenciais e resinas. A planta contém também anthemideae, um alcaloide conhecido por seu efeito estimulante e antiespasmódico, além de albumina, pigmentos e substâncias amargas que auxiliam em diversos tratamentos.

Esses compostos colaboram para uma ação terapêutica diversa: o ácido tânico, por exemplo, possui propriedades adstringentes, enquanto o ácido valeriânico age como um relaxante natural, similar ao que é encontrado na valeriana. O óleo-resina e os óleos voláteis atuam como antiespasmódicos, ajudando a aliviar dores abdominais e desconfortos digestivos.

Propriedades Medicinais e Benefícios Terapêuticos

A Anthemis cotula é utilizada há séculos como remédio caseiro, especialmente em regiões rurais da Europa. Sua eficácia em diversos problemas de saúde se dá pelas seguintes propriedades medicinais:

• Tônico: Atua no fortalecimento geral do organismo, especialmente em casos de fraqueza e fadiga.
• Emético: Em doses específicas, provoca o vômito, sendo usada em casos de ingestão acidental de substâncias nocivas.
• Antiespasmódico: Ajuda no alívio de espasmos e cólicas, sendo especialmente útil em casos de cólicas intestinais.
• Emenagogo: Estimula o fluxo menstrual, sendo usada em casos de amenorreia.
• Epispástico: De uso tópico, auxilia em inflamações reumáticas e na redução da dor.

Indicações e Modo de Usar

A Anthemis cotula é indicada para tratar uma variedade de problemas de saúde, sendo as principais indicações relacionadas a condições digestivas e reprodutivas. Abaixo, detalhamos algumas das principais formas de uso e dosagens recomendadas:

1. Para Cólicas e Diarreia: O uso de uma infusão fria ou extrato de Anthemis cotula proporciona um efeito tônico e antiespasmódico, aliviando cólicas intestinais e sintomas de diarreia.
2. Para Efeito Emenagogo e Diaforético: A infusão morna (20 g de planta para 1 litro de água) pode ser ingerida em doses de 30 a 100 ml, de 3 a 4 vezes ao dia. Essa preparação é usada para estimular o fluxo menstrual e aumentar a sudorese, ajudando a eliminar toxinas.
3. Uso Externo para Reumatismo e Congestão Abdominal ou Pélvica: Na aplicação tópica, o extrato pode ser utilizado em massagens sobre áreas reumáticas, promovendo alívio da dor e redução da inflamação.
4. Para Alívio da Enxaqueca: O extrato pode ser aplicado externamente em forma de compressas na região da cabeça e pescoço, proporcionando alívio em casos de enxaqueca leve a moderada.
5. Tratamento de Feridas e Chagas: A planta fresca, quando esmagada e aplicada diretamente sobre a pele, causa vesicação (formação de bolhas), que, embora seja um efeito colateral, tem mostrado benefícios para a cicatrização de feridas e o tratamento de chagas.
6. Epispástico Poderoso: A mistura das folhas frescas de Anthemis cotula com Polygonum punctatum, umedecidas em uma pequena quantidade de álcool de terebentina, é um epispástico poderoso utilizado para estimular a circulação sanguínea em áreas congestionadas, auxiliando em problemas como dores articulares e reumatismo.

Considerações e Precauções

A Anthemis cotula, embora amplamente utilizada, deve ser manuseada com cuidado devido ao seu efeito emético em doses elevadas e à possibilidade de causar reações adversas em peles sensíveis, especialmente em aplicações tópicas. Além disso, por ser emenagoga, a planta é contraindicada para mulheres grávidas, pois pode estimular contrações uterinas.

A Importância da Anthemis Cotula na Medicina Tradicional

A presença desta planta na medicina popular ao longo dos séculos destaca sua importância como um recurso acessível e eficaz. Em regiões onde o acesso a medicamentos era limitado, a Anthemis cotula oferecia uma alternativa para o tratamento de condições comuns, como cólicas e reumatismo. Ainda que atualmente os estudos científicos sobre a planta sejam limitados, o conhecimento tradicional e etnobotânico documentado em fontes históricas como Caminhoá (1877) e o Theatro de Francisco Gomes de Amorim (1874) garantem um legado valioso de seus usos.

Referências Bibliográficas

1. Caminhoá, J. M. (1877). Elementos de botânica geral e médica. Typographia Nacional.
2. Amorim, F. G. (1874). Theatro de Francisco Gomes de Amorim. Typ. Universal de T.Q. Antunes.
3. Velloso, R. (1965). Livro verde das plantas medicinais e industriais do Brasil: Descrição das plantas medicinais, industriais, comestíveis, tóxicas e venenosas; suas curiosidades históricas e lendas, Volume 1.