O cipó-mil-homens (Aristolochia esperanzae), pertencente à família das Aristolochiaceae, destaca-se como uma planta trepadeira de relevância na medicina tradicional brasileira. Também conhecida popularmente como cipó-buta, papo-de-peru, jarrinha e buta, essa espécie possui características morfológicas e propriedades químicas que despertam o interesse de fitoterapeutas e pesquisadores. Ao longo da história, seu uso abrangeu desde o alívio de cólicas e problemas digestivos até a aplicação controversa como antiofídico. Contudo, devido à presença de compostos tóxicos, o consumo deve ser realizado com cautela e sob orientação médica.
Descrição botânica e habitat natural
O cipó-mil-homens é uma planta trepadeira que se desenvolve apoiando-se em árvores vizinhas. Seu caule possui sulcos longitudinais revestidos por uma casca espessa, enquanto as folhas, em formato de coração ou rim, apresentam coloração verde intensa. As flores, de tonalidade amarelo-clara, destacam-se pelo tamanho avantajado e pelo odor peculiar, semelhante ao de carne em decomposição, o que atrai moscas varejeiras para o processo de polinização. Durante a polinização, os insetos ficam temporariamente presos dentro da flor devido a pelos orientados para baixo, liberando o pólen à medida que tentam escapar.
O fruto do cipó-mil-homens é uma cápsula alongada, medindo cerca de 10 centímetros de comprimento. A raiz, por sua vez, constitui a parte mais utilizada na medicina popular. O habitat natural da espécie abrange regiões tropicais da América do Sul, sendo encontrada no Brasil desde as Guianas até os estados de Minas Gerais e São Paulo. Prefere ambientes de mata fechada e áreas úmidas, onde pode se desenvolver livremente em meio à vegetação nativa.
História e uso tradicional
A família Aristolochiaceae compreende mais de 400 espécies, das quais aproximadamente 50 são empregadas medicinalmente desde a antiguidade. Civilizações orientais, árabes e greco-romanas já utilizavam essas plantas em seus sistemas terapêuticos. O nome científico do gênero Aristolochia deriva da junção dos termos gregos aristos (melhor) e loquia (parto), em referência ao uso da planta na indução de partos pela escola hipocrática. No entanto, é importante ressaltar que, devido ao potencial abortivo da aristoloquina — composto presente na planta —, o uso durante a gravidez é contraindicado.
No contexto brasileiro, as variedades do gênero são amplamente empregadas na medicina popular. O extrato fresco do cipó-mil-homens é tradicionalmente utilizado como antiofídico, especialmente no interior do país, embora não haja comprovação científica para essa indicação. Além disso, a planta é conhecida por seu efeito antipirético, sendo administrada no tratamento de febres e infecções. Segundo relatos históricos, o sanitarista Carlos Chagas utilizou essa planta para tratar operários ferroviários contaminados por um tipo de malária, o que contribuiu para a disseminação do nome popular “mil-homens”.
Composição química e propriedades medicinais
Os principais princípios ativos do cipó-mil-homens incluem alcaloides, flavonoides, glicosídeos, taninos e óleo essencial, cujo composto mais notório é a aristoloquina ou ácido aristoláquico. Essa substância é responsável por grande parte das propriedades terapêuticas da planta, mas também está associada a efeitos colaterais graves, como toxicidade renal e potencial carcinogênico. Por esse motivo, o uso deve ser realizado com extrema cautela e sempre sob supervisão médica.
As propriedades medicinais atribuídas ao cipó-mil-homens incluem ação antiespasmódica, digestiva, diurética, febrífuga e hepatoprotetora. A planta é tradicionalmente indicada para o alívio de cólicas, distúrbios estomacais, problemas renais, doenças hepáticas e dores cardíacas. Além disso, a raiz é empregada na medicina popular como um suposto antiofídico, embora não existam evidências científicas que comprovem sua eficácia nesse contexto.
Indicações terapêuticas
O cipó-mil-homens é utilizado principalmente no tratamento das seguintes condições:
• Sistema digestivo: Alívio de cólicas abdominais, indigestão, dispepsia e dores estomacais.
• Sistema renal: Estímulo à função renal, auxiliando na eliminação de toxinas.
• Sistema hepático: Proteção do fígado e auxílio no tratamento de doenças hepáticas.
• Sistema cardiovascular: Redução de dores cardíacas e melhora da circulação sanguínea.
• Sistema imunológico: Combate a infecções e redução da febre.
Contraindicações e efeitos colaterais
Devido ao seu potencial tóxico, o uso do cipó-mil-homens deve ser realizado com precaução. A aristoloquina, principal composto ativo da planta, possui efeito abortivo, sendo absolutamente contraindicada durante a gravidez. Além disso, há evidências científicas de que o uso prolongado ou em doses elevadas pode causar danos renais e aumentar o risco de câncer. Por esse motivo, o consumo deve ser restrito e sempre acompanhado por um profissional de saúde qualificado.
Modo de preparo e dosagem
O preparo tradicional do cipó-mil-homens envolve o uso da raiz em forma de decocção ou infusão. No entanto, devido ao potencial tóxico da planta, não é recomendável o uso caseiro sem orientação médica. As doses e o modo de administração devem ser definidos por um especialista, considerando as características individuais de cada paciente.
O cipó-mil-homens (Aristolochia esperanzae) é uma planta de grande relevância na medicina popular brasileira, sendo utilizada há séculos para o tratamento de diversas condições de saúde. No entanto, seu uso requer cautela devido à presença de aristoloquina, substância com potencial abortivo e carcinogênico. Dessa forma, é essencial que o consumo seja realizado sob orientação médica, respeitando as doses recomendadas e evitando o uso prolongado. A pesquisa científica continua sendo fundamental para a compreensão dos benefícios e riscos associados a essa planta, permitindo seu uso seguro e eficaz no contexto da fitoterapia.
Posologia:
Adultos: 10 a 20ml de tintura divididos em 2 ou 3 doses diárias, diluídos em água; 2g de erva seca (1 colher de sopa para cada xícara de água) de cascas e raízes em decocção até 3 vezes ao dia; Banhos (orquite, doenças da pele): 50g de raízes para cada 1000ml de água; Dermatoses: extrato seco das cascas sobre a área afetada, compressas do decocto das raízes.
Farmacologia:
Os aristolactanos do Angelico possuem atividade antitumoral contra diversas linhagens de células neoplásicas, aumentam a eficiência do sistema fagocitário e inibem o crescimento de varias bactérias in vitro. Os princípios amargos aumentam as secreções digestivas, facilitando a digestão; Os extratos possuem atividade hipotensora, fluidificante das secreções respiratórias, anti-inflamatória e sedativa. Tem efeito opsonizador, eliminando agentes patogênicos;
Toxicologia: O ácido aristolóquico possui atividade mutagênica e carcinogênica em estudos in vitro. Há comprovações em estudos, de efeito teratogênico em ratos. Essas reações ocorrem apenas no uso destas substâncias isoladamente e em doses imensamente elevadas as doses encontradas nos extratos do cipó mil-homens; Mesmo assim, recomenda-se que esta planta não seja utilizada por mais de 30 dias sem intervalo. Alguns autores recomendam a interrupção por períodos iguais ao uso.
Referências bibliográficas
• HARLEY, R.; FRANÇA, F.; SANTOS, E. P.; SANTOS, J. S.; PASTORE, J. F. Lamiaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2015.
• BFG. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia, v.66, n.4, p.1085-1113, 2015. DOI: 10.1590/2175-7860201566411.
• MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von. Systema de materia medica vegetal brasileira: Catálogo de Classificação de Todas as Plantas Conhecidas. Laemmert, 1854. Página 188.
• EGISTO, Eduardo. Homeopatia Natural Energética: Uma Visão de Cura. São Paulo: Edição do Autor, 2015.