Plantas Que Curam

Abóbora D’anta: Tesouro Medicinal da Floresta Amazônica

Cayaponia tayuya

A abóbora d’anta, conhecida cientificamente como Cayaponia tayuya, é uma planta trepadeira lenhosa pertencente à família das Cucurbitáceas. Encontrada principalmente nas florestas tropicais da Amazônia, esta planta possui uma longa história de uso medicinal entre as populações indígenas e caboclas. Suas raízes robustas e profundamente inseridas no solo amazônico são renomadas por suas propriedades terapêuticas, destacando a abóbora d’anta como um verdadeiro tesouro natural da biodiversidade brasileira.

Características Morfológicas

A abóbora d’anta é uma trepadeira vigorosa, cujos ramos sulcados e pubescentes se estendem por vários metros, suportando folhas trilobadas de 8 a 12 cm de comprimento. Estas folhas, com seus lobos oblongos de ápice mucronado, conferem à planta uma aparência densa e resistente. As gavinhas, simples e estriadas, ajudam-na a se agarrar firmemente às árvores e outras estruturas, enquanto as flores solitárias ou agrupadas em fascículos trazem um toque de delicadeza à planta.

As flores masculinas, sustentadas por pedúnculos de 1 a 1,5 cm de comprimento, apresentam um tubo de cálice infundibuliforme, medindo entre 10 e 12 mm. Já as flores femininas possuem uma corola de 12 a 13 mm, com ovários oblongos e vilosos que evoluem para frutos glabros, avermelhados, com cerca de 25 a 28 mm de comprimento. Estes frutos contêm sementes oblongas, de base oblíqua, e são frequentemente consumidos pela anta, o que explica o nome popular da planta.

Distribuição Geográfica e Ecologia

Originária das regiões mais quentes das Américas, a abóbora d’anta se estende do Brasil e Peru até a Bolívia. No Brasil, é comumente encontrada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia, onde cresce em matas e áreas de floresta secundária. Embora seja uma planta adaptada às condições tropicais, sua distribuição geográfica também inclui partes da África Ocidental, Madagascar e Indonésia, destacando sua capacidade de adaptação a diferentes ecossistemas.

Usos Medicinais e Propriedades Terapêuticas

Desde tempos pré-históricos, as raízes da abóbora d’anta têm sido valorizadas por suas propriedades medicinais. A raiz verde da planta é reconhecida por sua ação drástica, enquanto a raiz seca é utilizada em uma variedade de aplicações terapêuticas, incluindo o tratamento de anemias, distúrbios gastrointestinais, reumatismo, e até sífilis. A planta é amplamente empregada como depurativo do sangue, calmante para dores, diurético e febrífugo.

Os princípios ativos presentes na abóbora d’anta incluem amido, alcalóides (como cucurbitacina), flavonoides (datiscentina e robinetina), triterpenos, resinas vegetais e glicosídeos (cayaponosídeos A, B, C e D). Estes compostos conferem à planta uma potente atividade antioxidante, analgésica e anti-inflamatória. Estudos farmacológicos recentes indicam que os glicosídeos e triterpenos isolados da planta demonstraram atividades antivirais, especificamente contra a síndrome de Epstein-Barr, e antitumorais in vitro.

Modo de Uso e Precauções

O uso medicinal da abóbora d’anta requer precauções, especialmente no que diz respeito à dosagem. Em adultos, recomenda-se a ingestão de 10 a 20 ml de tintura, divididos em duas ou três doses diárias, diluídas em água. Para a utilização das raízes secas, pode-se preparar um decocto com 4 g da erva para cada xícara de água, administrado até três vezes ao dia. No caso de crianças, a dosagem deve ser ajustada de acordo com o peso corporal, respeitando-se um intervalo mínimo de 12 horas entre as doses.

Embora a abóbora d’anta seja amplamente utilizada, é importante estar ciente de suas contra indicações. Pacientes com tendência à diarreia devem evitar o uso da planta, pois pode causar aumento do número de evacuações ou diarreia pastosa. Além disso, o uso excessivo da raiz verde pode provocar efeitos colaterais indesejados devido à sua natureza drástica.

História e Importância Cultural

A abóbora d’anta possui um profundo significado cultural para as populações tradicionais da Amazônia. Utilizada por gerações de indígenas e caboclos, a planta não só serve como remédio natural, mas também desempenha um papel na alimentação de espécies da fauna local, como a anta, que contribui para a dispersão das sementes.

Os conhecimentos tradicionais sobre a abóbora d’anta são passados de geração em geração, refletindo uma sabedoria ancestral que integra botânica e medicina. No Brasil, ela é conhecida por diversos nomes regionais, como taiuiá, purga-de-caboclo, e capitão-do-mato, cada um revelando aspectos distintos de seu uso e importância cultural.

Cultivo e Sustentabilidade

O cultivo da abóbora d’anta na Amazônia é desafiador, exigindo condições específicas para a colheita. A planta só pode ser colhida durante a estação chuvosa, quando o solo está macio e úmido, facilitando a extração de suas longas raízes. Durante a estação seca, o solo argiloso torna-se duro e difícil de trabalhar, o que pode comprometer a integridade das raízes.

Dada a crescente demanda por plantas medicinais e o impacto da exploração desenfreada, é crucial adotar práticas sustentáveis de manejo para garantir a preservação da abóbora d’anta e de outras espécies da floresta amazônica. A conservação da biodiversidade vegetal não só mantém a saúde dos ecossistemas, mas também assegura que recursos medicinais valiosos permaneçam disponíveis para as futuras gerações.Bibliografia:

CAVALCANTI, Rogério. Fitodontologia – 1. Edição, Rio Branco/AC, Clube dos Autores, 2013.

GUEDES, Maria Helena., O Chimarrão Na Índia! – Clube de Autores, 2015 – Página 289.

JÚNIOR, Ademir Barbosa., Guia Prática de Plantas Medicinais, descubra o que os vegetais podem fazer pela sua saúde- Universo dos Livros Editora, São Paulo, 2005.

Da Silva, Danuzio Gil Bernardino, Márcia Lyra Nascimento Egg, Bóris N. Komissarov, Hans Becher, Paulo Masuti Levy, Danuzio Gil B. da Silva, Marcos P. Braga – Os diários de Langsdorff, Volume 3, de 21 de novembro de 1826 até 20 de maio de 1828- SciELO – Editora FIOCRUZ, 1997.

ATRATIVIDADE DE SEMENTES DE “TAIUIÁ” (CAYAPONIA TAYUYA (VELL.) COGN.,CUCURBITACEAE) A DIABROTICA SPP. (COLEOPTERA, CHRYSOMELIDAE), EM ACELGA (BETA VULGARIS L. VAR. CICLA L., CHENOPODIACEAE) NA ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DO INSTITUTO AGRONÔMICO, EM SÃO ROQUE, SP M. A. Sanches1 & I. Ishimur. Laboratório Regional de Sorocaba, Centro de Ação Regional, Instituto Biológico, Rua Antônio Gomes Morgado, 340, CEP 18013-440, Sorocaba, SP, Brasil.