Medicamentos para perda de peso oferecem benefícios além da redução de peso, mas exigem cautela. Descubra seus impactos em diferentes sistemas do corpo.

Os medicamentos para perda de peso, como Ozempic e Wegovy, vêm ganhando atenção mundial não apenas pelos benefícios relacionados à redução de peso, mas também pelos impactos inesperados em diferentes sistemas do corpo humano. Um estudo recente, publicado na prestigiada revista Nature Medicine, revelou resultados que podem transformar nossa compreensão sobre essas drogas. Ao mesmo tempo, os dados ressaltam que o uso desses medicamentos não está isento de riscos, exigindo análise criteriosa e mais pesquisas para avaliar seus efeitos.

Uma Visão Geral: O Que São Esses Medicamentos?

Ozempic e Wegovy têm como princípio ativo o semaglutido, um análogo do GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1). Este hormônio é produzido pelo intestino após a alimentação, desempenhando um papel crucial na regulação do apetite. Ao ligar a receptores específicos no cérebro, ele envia sinais que promovem saciedade, reduzindo significativamente o consumo alimentar.

Essas drogas foram originalmente desenvolvidas para tratar a diabetes tipo 2, mas a perda de peso observada como efeito colateral chamou atenção, levando à sua utilização em tratamentos voltados à obesidade. No entanto, como mostram as pesquisas recentes, os efeitos vão muito além do controle glicêmico e da redução de peso.

Resultados do Estudo: Benefícios Abrangentes e Riscos Associados

O estudo envolveu dados de aproximadamente dois milhões de pacientes, majoritariamente veteranos dos Estados Unidos, muitos dos quais foram tratados com Ozempic ou Wegovy. O objetivo era analisar o impacto desses medicamentos em 175 condições médicas distintas. Os resultados mostraram que os medicamentos não apenas ajudam no controle de peso, mas também proporcionam benefícios significativos para a saúde em diversas áreas.

Benefícios Identificados

1. Melhoria na Saúde Cardiovascular

Pacientes tratados com semaglutido apresentaram menor incidência de doenças cardiovasculares, como ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais e insuficiência cardíaca.

2. Redução do Risco de Doenças Neurológicas e Psiquiátricas

O estudo relatou uma diminuição significativa em casos de Alzheimer (12% em apenas 3,5 anos de uso), esquizofrenia, pensamentos suicidas e convulsões.

3. Menor Propensão ao Abuso de Substâncias

O GLP-1 parece afetar os mecanismos de recompensa cerebral, reduzindo o desejo por álcool, opioides e outras substâncias, além de diminuir comportamentos compulsivos, como jogos de azar.

4. Redução de Infecções e Doenças Renais

Os usuários dos medicamentos apresentaram menos infecções bacterianas, febres e doenças renais crônicas.

Riscos e Efeitos Colaterais

Por outro lado, o estudo também destacou riscos associados ao uso dos medicamentos:

• Problemas gastrointestinais, como náusea, dor abdominal, diverticulite e hemorróidas.
• Inflamações no estômago e no pâncreas, sendo esta última uma condição potencialmente fatal.
• Aumento de dores articulares e ósseas, algo inesperado considerando que a perda de peso reduz a pressão sobre as articulações.

O Dr. Ziyad al-Aly, pesquisador principal do estudo, afirmou que, embora os benefícios sejam promissores, o impacto direto das drogas nos tecidos e células ainda é um campo repleto de mistérios.

Mecanismos de Ação: Muito Além da Perda de Peso

Os efeitos amplos do semaglutido sugerem que o medicamento não age apenas indiretamente, promovendo a redução do peso. Ele também parece influenciar diretamente a atividade celular em diferentes tecidos do corpo.

1. Regulação da Inflamação

O GLP-1 reduz níveis de inflamação, o que pode explicar sua eficácia na diminuição de condições inflamatórias e no melhor funcionamento do sistema imunológico.

2. Impacto no Sistema Nervoso Central

Os receptores de GLP-1 no cérebro não apenas controlam o apetite, mas também afetam emoções, tomada de decisões e outros comportamentos, como o desejo por substâncias e atividades potencialmente prejudiciais.

3. Saúde Metabólica e Hormonal

Além de melhorar o controle glicêmico, o semaglutido pode influenciar a produção hormonal em outros sistemas, promovendo benefícios inesperados para o fígado e os rins.

Considerações Éticas e Cautelas no Uso

Embora os resultados sejam animadores, os pesquisadores enfatizam que os medicamentos não são indicados para todos os casos. Para pessoas cujo peso não impacta significativamente sua saúde, os riscos podem superar os benefícios.

Outro ponto importante é a necessidade de estudos mais abrangentes que incluam populações diversificadas. Até o momento, grande parte dos dados envolve homens brancos, limitando a análise sobre o impacto em mulheres e outros grupos demográficos.

Além disso, efeitos em longo prazo ainda não são bem compreendidos. Estudos atuais com foco em condições específicas, como Alzheimer, devem trazer respostas mais conclusivas nos próximos anos.

Reflexões e Perspectivas Futuras

O potencial desses medicamentos vai além do tratamento da obesidade e diabetes. Eles podem representar uma revolução no tratamento de condições crônicas associadas ao peso e à inflamação. No entanto, ainda é necessário equilibrar as promessas com a cautela, considerando tanto os benefícios quanto os riscos.

Nas palavras do professor Sir Stephen O’Rahilly, da Universidade de Cambridge: “Este é um campo emergente, cheio de descobertas fascinantes, mas que exige interpretação cuidadosa e estudos adicionais para confirmar seu verdadeiro impacto na saúde humana”.

Referências Bibliográficas

1. Al-Aly, Z., et al. (2025). “Effects of GLP-1 receptor agonists on health outcomes.” Nature Medicine.
2. Sattar, N. (2025). “GLP-1 agonists and their impact on chronic diseases.” Journal of Clinical Endocrinology.
3. O’Rahilly, S. (2024). “Obesity, inflammation, and systemic health: Emerging insights.” The Lancet Diabetes & Endocrinology.