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Pequi (Caryocar brasiliense): Propriedades e Usos Medicinais

O pequi (Caryocar brasiliense), uma árvore típica do Cerrado brasileiro, é amplamente conhecido por seu fruto nutritivo e aromático. No entanto, além do seu valor gastronômico, o pequi também apresenta diversas propriedades medicinais, sendo utilizado na fitoterapia popular há séculos. Seu óleo, rico em ácidos graxos insaturados e compostos bioativos, possui ação anti-inflamatória, antioxidante e potencialmente anticancerígena. Este artigo explora as características botânicas, farmacológicas e os usos medicinais do pequi, destacando sua relevância na medicina natural e na indústria cosmética.

Descrição Botânica

O pequizeiro pertence à família Caryocaraceae e pode atingir até 10 metros de altura. Suas folhas são ricas em taninos, substâncias conhecidas por suas propriedades adstringentes e antioxidantes, utilizadas na produção de tinturas naturais (Barradas, 1971). A madeira, extremamente resistente, é amplamente empregada na construção civil, em mourões, dormentes ferroviários e até na fabricação de embarcações (Paula & Alves, 1997).

As flores do pequizeiro, brancas e de grande beleza ornamental, surgem entre junho e outubro, atraindo abelhas e contribuindo para a polinização. Já os frutos amadurecem entre agosto e janeiro, sendo facilmente reconhecidos por sua forma globosa e coloração esverdeada. Internamente, cada fruto pode conter de um a quatro caroços, envoltos por uma polpa amarela comestível, de sabor intenso e rico em lipídios.

Distribuição e Habitat

O pequizeiro é amplamente distribuído pelo território brasileiro, sendo encontrado nos estados da Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Adaptado às condições do Cerrado, cresce predominantemente em solos bem drenados e ricos em matéria orgânica.

História e Uso Tradicional

O nome “pequi” tem origem no tupi-guarani, onde “py” significa casca e “qui” remete a espinho, uma referência direta à estrutura espinhosa encontrada no caroço do fruto. O uso medicinal do pequi é amplamente documentado na cultura popular, especialmente no tratamento de doenças respiratórias. Na década de 1940, por exemplo, o óleo do pequi foi empregado na fabricação da “Emulsão de Pequi” e do “Piquióleo”, medicamentos usados no tratamento de gripes, bronquites e outros problemas respiratórios.

Além do uso medicinal, a polpa do pequi é consumida de diversas formas: cozida, em licores, e até na produção de sabões caseiros. O fruto também é utilizado como alimento para animais domésticos, sendo uma importante fonte energética para bovinos, ovinos e suínos.

Composição Química e Princípios Ativos

O pequi é uma excelente fonte de nutrientes e compostos bioativos. Sua polpa contém:

Óleos essenciais ricos em ácidos graxos insaturados;

Proteínas e fibras alimentares;

Carotenóides, como anteraxantina, zeaxantina, violaxantina e luteína, com forte ação antioxidante;

Vitaminas A e E, essenciais para a saúde da pele e da visão;

Licopeno, conhecido por seu potencial anticancerígeno;

Minerais essenciais, como cálcio, fósforo e magnésio.

A presença de pectinas e celulose confere ao pequi propriedades digestivas e benéficas para a microbiota intestinal.

Propriedades Medicinais e Aplicações Terapêuticas

A riqueza nutricional do pequi faz com que ele seja utilizado na medicina natural como auxiliar no tratamento de diversas condições. Entre suas principais propriedades medicinais, destacam-se:

Anti-inflamatório: o óleo do pequi ajuda a reduzir processos inflamatórios crônicos, sendo útil para tratar doenças articulares, como artrite e reumatismo.

Antioxidante: a alta concentração de carotenoides e vitamina E protege as células contra o estresse oxidativo, prevenindo o envelhecimento precoce.

Expectorante e broncodilatador: misturado ao mel, o óleo do pequi auxilia na eliminação do muco em casos de bronquite, gripes e resfriados.

Regulador do fluxo menstrual: chás preparados a partir das folhas do pequizeiro são usados na medicina popular para equilibrar os ciclos menstruais.

Cicatrizante e hidratante: utilizado em formulações cosméticas, o óleo de pequi ajuda na regeneração da pele e no tratamento de queimaduras e dermatites.

Além disso, estudos indicam que o consumo regular de pequi pode contribuir para a saúde cardiovascular, reduzindo os níveis de colesterol ruim (LDL) e aumentando o colesterol bom (HDL).

Formas de Uso e Posologia

Uso interno

Óleo de pequi: utilizado como suplemento alimentar ou misturado ao mel para o tratamento de doenças respiratórias. A dose padrão recomendada é de 0,5 a 1 ml/kg/dia.

Chá das folhas: usado como regulador do fluxo menstrual. Para preparar, recomenda-se 4 g de folhas frescas ou 2 g de folhas secas para cada xícara de água.

Uso externo

Cosméticos: cremes e loções hidratantes contendo óleo de pequi são utilizados para nutrição da pele e dos cabelos.

Sabonetes e óleos corporais: empregados no tratamento de pele ressecada e irritações cutâneas.

Contraindicações e Precauções

Embora o pequi seja considerado seguro para a maioria das pessoas, é importante destacar que:

⚠ O fruto contém espinhos internos, podendo causar ferimentos na boca se consumido de forma inadequada.

⚠ Pessoas alérgicas a caryocaraceae devem evitar o consumo.

⚠ O óleo de pequi deve ser usado com moderação por indivíduos com hipersensibilidade a óleos vegetais.

O pequi (Caryocar brasiliense) é um verdadeiro tesouro do Cerrado brasileiro, reunindo valor nutricional, medicinal e cultural. Seu óleo e derivados são amplamente utilizados na fitoterapia e na indústria cosmética, demonstrando benefícios à saúde respiratória, cardiovascular e dermatológica. No entanto, seu uso deve ser realizado de maneira consciente, respeitando as tradições populares e as recomendações científicas.

A preservação do pequizeiro é essencial para a manutenção da biodiversidade do Cerrado e para a valorização de seus benefícios. Dessa forma, incentivar o consumo sustentável e o cultivo responsável desse fruto tão especial é um passo fundamental para sua conservação e aproveitamento pleno.