Plantas Que Curam

Picão-preto (Bidens pilosa): usos medicinais e benefícios

A fitoterapia tem sido uma importante aliada da medicina tradicional em diversas culturas, e uma das plantas mais estudadas por suas propriedades terapêuticas é o Bidens pilosa, popularmente conhecido como picão-preto. Essa erva, encontrada amplamente em regiões tropicais e subtropicais, tem sido utilizada há séculos por suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, antimicrobianas e hepatoprotetoras.

Embora muitas de suas indicações sejam embasadas em usos tradicionais, estudos científicos recentes têm investigado suas propriedades e seus compostos bioativos, o que amplia o interesse da comunidade médica e farmacêutica. Neste artigo, exploramos a botânica, os princípios ativos e os potenciais benefícios dessa planta, além de discutir precauções e formas de uso.

Descrição botânica

O Bidens pilosa pertence à família Asteraceae (Compostas) e é uma planta herbácea anual, rústica e de crescimento rápido, muito comum em terrenos baldios, margens de estradas e lavouras, onde é frequentemente considerada uma erva daninha.

A planta apresenta caule ereto e quadrangular, podendo atingir até 1,5 metro de altura. Suas folhas são pecioladas e opostas, com bordas serrilhadas e formato variando entre simples e compostas. As flores, pequenas e amareladas ou esbranquiçadas, são agrupadas em capítulos. Os frutos, chamados de aquênios, possuem pequenas cerdas que facilitam sua dispersão pelo vento e por animais.

O picão-preto é nativo das Américas, mas atualmente está amplamente distribuído em regiões tropicais e subtropicais da África, Ásia e Oceania. Devido à sua resistência e adaptabilidade, pode ser encontrado em diversos tipos de solo e clima, tornando-se uma espécie cosmopolita.

História e usos tradicionais

O uso do picão-preto remonta às práticas medicinais indígenas da América do Sul e de outros povos tradicionais. Na medicina popular brasileira, é empregado para tratar problemas hepáticos, digestivos, inflamatórios e infecciosos. Povos africanos também utilizam a planta como alimento e fitoterápico, enquanto na Ásia, especialmente na China, tem sido estudada por seu potencial no tratamento de doenças metabólicas, como o diabetes.

Na cultura indígena amazônica, o picão-preto é usado para tratar icterícia e distúrbios hepáticos. Em países como a Nigéria e a África do Sul, folhas jovens são consumidas como hortaliça devido ao seu alto valor nutricional, sendo ricas em vitaminas e minerais.

Composição química e princípios ativos

Os efeitos medicinais do picão-preto estão associados à sua rica composição fitoquímica, que inclui flavonoides, terpenoides, compostos fenólicos, cumarinas, poliacetilenos e ácidos graxos essenciais. Entre os principais compostos identificados, destacam-se:

Flavonoides (quercetina, luteolina, isoquercitrina) – apresentam ação antioxidante e anti-inflamatória.

Poliacetilenos – possuem efeito antimicrobiano e citotóxico.

Cumarinas – podem atuar como anticoagulantes naturais.

Ácidos graxos essenciais – como o ácido linoleico, com propriedades imunomoduladoras.

Carotenoides e fitosteróis – importantes para a saúde celular e a proteção contra radicais livres.

Estudos sugerem que esses compostos contribuem para os diversos efeitos terapêuticos atribuídos ao picão-preto, tornando-o um candidato promissor para a pesquisa de novos fitoterápicos.

Propriedades medicinais e aplicações terapêuticas

Diversas pesquisas científicas têm analisado os efeitos do picão-preto, corroborando parte de seu uso tradicional. Entre suas principais propriedades, destacam-se:

Anti-inflamatória: estudos indicam que os flavonoides presentes na planta podem modular processos inflamatórios, sendo úteis no tratamento de artrites e inflamações intestinais.

Antioxidante: os compostos fenólicos ajudam a neutralizar os radicais livres, prevenindo danos celulares e retardando o envelhecimento precoce.

Antimicrobiana e antiviral: pesquisas preliminares demonstram atividade contra bactérias como Staphylococcus aureus e Escherichia coli, além de possíveis efeitos antivirais.

Hepatoprotetora: tradicionalmente utilizado para tratar doenças hepáticas, o picão-preto pode auxiliar na proteção do fígado contra toxinas e processos inflamatórios.

Antidiabética: alguns estudos sugerem que extratos da planta podem reduzir os níveis de glicose no sangue, sendo uma opção para o manejo da diabetes tipo 2.

Cicatrizante: seu uso tópico tem demonstrado eficácia na regeneração de tecidos e no tratamento de feridas e úlceras cutâneas.

Formas de uso e preparo

O picão-preto pode ser consumido de diferentes formas, dependendo do objetivo terapêutico:

Infusão: uma colher de sopa (5g) das folhas em ½ litro de água quente. Indicado para problemas hepáticos, digestivos e inflamatórios.

Decocção: 10g de folhas fervidas em 1 litro de água, utilizado externamente para compressas e banhos terapêuticos.

Suco das folhas frescas: aplicado sobre feridas e úlceras para acelerar a cicatrização.

Tintura: 2 a 3 ml diluídos em água, duas vezes ao dia.

Cápsulas e extratos secos: disponíveis no mercado, devem ser utilizados conforme orientação profissional.

Precauções e contraindicações

Apesar dos benefícios, o uso do picão-preto deve ser feito com cautela:

Gestantes e lactantes: devido à possível ação estimulante uterina, não é recomendado durante a gravidez.

Pacientes em uso de anticoagulantes: as cumarinas presentes na planta podem interagir com medicamentos como a varfarina.

Diabéticos: pode potencializar a ação de medicamentos hipoglicemiantes, sendo necessário monitoramento médico.

Indivíduos hipertensos: embora seja considerado seguro, pode ter efeito hipotensor leve.

O consumo excessivo pode levar a desconfortos gastrointestinais, como náuseas e diarreia. Portanto, é essencial seguir a dosagem recomendada e buscar orientação de um profissional de saúde.

O picão-preto (Bidens pilosa) é uma planta de grande relevância na medicina tradicional e na fitoterapia moderna. Suas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes, antimicrobianas e hepatoprotetoras vêm sendo cada vez mais estudadas, reforçando seu potencial terapêutico.

No entanto, embora seu uso seja amplamente difundido, é fundamental considerar as contraindicações e possíveis interações medicamentosas. Como em qualquer tratamento natural, o acompanhamento de um profissional especializado é essencial para garantir segurança e eficácia.

Referências bibliográficas

• BRANDÃO, M. G. L. Plantas Medicinais no Brasil: Nativas e Exóticas. Artmed, 2010.

• MACIEL, M. A. M. et al. “Plant-derived medicines: A review of safety and efficacy”. Brazilian Journal of Pharmacognosy, 2002.

• SINGH, R. et al. “Bidens pilosa L.: A review of its phytochemical and pharmacological profile”. Journal of Ethnopharmacology, 2017.

Farmacologia:

Já em 1979 e 1980, cientistas demonstraram que os princípios químicos encontrados erva eram tóxicas a bactérias e fungos; Muitos do flavonoides apresentaram atividade antimalárica; Em 1991, cientistas suíços isolaram vários fitoquímicos com características antimicrobianas e anti-inflamatórias e concluíram que “pode-se racionalizar o uso desta planta em medicina tradicional no tratamento de feridas, contra inflamações e contra infecção bacteriana da área de gastrointestinal”; Um novo fitoquímico bioativo, descoberto em 1996, mostrou atividade contra linhas de célula humanas transformadas;

O picão foi o assunto de uma pesquisa clínica recente que apoiou muitos de seus usos em medicina herbácea. Um grupo de pesquisa em Taiwan informou que o extrato de picão era capaz de proteger o fígado de ratos de várias toxinas. Este grupo havia demonstrado anteriormente ações anti-inflamatórios do picão preto em animais; em 1999, um grupo brasileiro de pesquisa confirmou as atividades anti-inflamatórias em camundongos e os atribuiu a um efeito modulador imunitário. (O extrato reduziu a quantidade de células imunes em sangue humano num estudo prévio síntese); Além do mais, outra pesquisa demonstrou que o extrato inibiu a síntese de prostaglandina e atividade da ciclooxigenase (COX). Ambos são processos químicos ligados a doenças inflamatórias.

Outras áreas de pesquisa validaram uso tradicional do picão para úlceras e diabetes. Outro estudo in vivo com ratos e camundongos demonstrou que o picão tem atividade hipoglicemia e pode melhorar a sensibilidade à insulina que valida sua longa história em medicina herbácea para diabetes. Os pesquisadores atribuíram as características hipoglicemiantes da planta a um grupo de glicosídeos encontrados nas partes aéreas da planta; O Picão também preveniu hipertensão em ratos e baixou os níveis de triglicerídeos.

Em ratos de hipertensos (incluindo hipertensão alta sal induzido dietética), extratos da planta baixaram significativamente a pressão arterial sem ter um efeito no débito cardíaco e volume de urina. Também foi mostrada atividade renal na musculatura lisa do coração; Em 1991, cientistas do Egito documentaram atividade antimicrobiana contra vários patógenos.

Outro estudo in vitro demonstrou sua atividade antibacteriana contra um vasto leque de bactérias incluindo Klebsiella, Bacilo, gonorrhoeae Neisseria, Pseudomonas, Estafilococo, e Salmonella. Extratos da folha também tem atividade antimicobacteriana contra Mycobacterium e M. smegmatis, Cândida albicans. Pesquisas confirmaram o usos nos trópicos para mordedura de serpente e malária; ( um grupo de pesquisa confirmou que um extrato de picão podia proteger camundongos de injeções letais de veneno neurotóxico de cobra); A última área de pesquisa focalizou as possibilidades anticancerosas.

Em vários sistemas de ensaio in vitro mostrou atividade antitumoral. Pesquisadores de Taiwan informaram em 2001 que um simples extrato quente de picão podia inibir o crescimento de cinco tensões de seres humanos e leucemia de camundongos, em menos que 200 mcg por ml em vitro. Resumiram sua pesquisa dizendo que “o picão provou ser uma planta medicinal útil para tratar leucemia”.