A Phytolacca decandra, popularmente conhecida como fitolaca, é uma planta amplamente utilizada na medicina tradicional para tratar artrite, reumatismo, inflamações e problemas dermatológicos. No entanto, seu uso requer cautela, pois todas as suas partes contêm compostos tóxicos que podem causar efeitos adversos graves.
Originária da América do Norte, essa planta se espalhou por diversos continentes e ganhou notoriedade tanto como remédio natural quanto como ingrediente de corantes e tinturas. Neste artigo, exploraremos suas propriedades medicinais, princípios ativos, aplicações terapêuticas, toxicidade e precauções no uso.
Descrição Botânica
A fitolaca pertence à família Phytolaccaceae e é conhecida por diversos nomes populares, incluindo caruru-de-cachos, erva-de-laca, uva-do-canadá, tintureira-vulgar e uva-dos-passarinhos. Trata-se de um arbusto perene vigoroso que pode atingir até 4 metros de altura, com um caule ereto e avermelhado, folhas grandes e lanceoladas, além de cachos florais brancos ou esverdeados.
Seus frutos, que amadurecem no outono, são bagas suculentas e escuras, de coloração entre roxo e preto. Embora possam parecer inofensivos, essas bagas são tóxicas quando consumidas cruas. As partes mais utilizadas para fins medicinais são as raízes, folhas jovens e frutos cozidos.
Distribuição e Habitat
A Phytolacca decandra é nativa do leste da América do Norte, mas foi amplamente naturalizada na Europa, Ásia e Índias Ocidentais. No Brasil, cresce espontaneamente em terrenos baldios, beiras de estradas, áreas abertas e regiões de mata secundária.
História e Uso Tradicional
A fitolaca é utilizada há séculos por diferentes culturas. Os indígenas norte-americanos empregavam suas raízes no tratamento de inflamações e dores articulares. As folhas jovens eram consumidas como alimento após fervura, um prato conhecido como “poke sallet” nos Estados Unidos. Além disso, o suco das bagas foi historicamente utilizado como corante para vinhos, tintas e tecidos.
Na homeopatia, a Phytolacca decandra é um dos principais remédios utilizados para condições inflamatórias e glandulares, como mastites e amigdalites (EGISTO, 2015).
Propriedades Medicinais e Indicações
A fitolaca apresenta diversas propriedades medicinais, sendo anti-inflamatória, depurativa, antirreumática, purgativa, antiobesidade, emenagoga e anticancerígena. Seu uso tradicional abrange o tratamento das seguintes condições:
• Doenças reumáticas (artrite, gota, reumatismo crônico)
• Distúrbios dermatológicos (dermatofitose, sarna, eczema, psoríase)
• Desordens metabólicas (obesidade, retenção de líquidos)
• Infecções virais e bacterianas (sífilis, inflamações crônicas)
• Dismenorreia (cólicas menstruais intensas)
• Câncer de pele (uso tópico)
No entanto, apesar desses usos, não há evidências científicas robustas que comprovem sua eficácia clínica, e seu consumo deve ser feito com extrema cautela devido à toxicidade.
Composição Química e Princípios Ativos
A fitolaca contém uma série de compostos bioativos com propriedades medicinais e tóxicas. Entre os principais, destacam-se:
1. Saponinas triterpênicas
• Fitolacagenina
• Ácido fitolacinico
• Fitolacosídeos (A, B, D, E, G)
Esses compostos estão associados às propriedades anti-inflamatórias, mas também são os principais responsáveis pela toxicidade da planta.
2. Proteínas antivirais (PAPs – Pokeweed Antiviral Proteins)
Essas proteínas mostraram atividade antiviral contra herpes, influenza, citomegalovírus e HIV, inibindo a replicação viral (FONTES, 2001).
3. Lignanas e alcaloides
As sementes da fitolaca contêm lignanas como americanina A e B, que possuem ação neuroprotetora e antioxidante.
Toxicidade e Efeitos Colaterais
Embora a fitolaca seja usada medicinalmente, todas as suas partes são tóxicas, especialmente as raízes e frutos crus. Os sintomas de intoxicação incluem:
• Náusea, vômito e diarreia intensa
• Cãibras e cólicas estomacais
• Fraqueza e vertigem
• Hipotensão e dificuldade respiratória
• Convulsões e, em casos extremos, morte
Casos de envenenamento grave foram relatados em adultos que ingeriram infusões de raízes e em crianças após o consumo de bagas cruas (FONTES, 2001).
Modo de Uso e Precauções
A fitolaca NÃO deve ser usada sem orientação profissional devido à sua toxicidade. Algumas formas seguras de preparo incluem:
• Folhas jovens: podem ser consumidas após fervura em água por 5 minutos, com troca de água.
• Frutos: apenas cozidos são seguros.
• Raiz seca: usada em doses muito pequenas (60 a 100 mg/dia) para artrite e imunidade, mas sem comprovação clínica.
• Gestantes e lactantes: risco de aborto espontâneo.
• Pessoas com doenças hepáticas e renais: metabolismo dificultado dos compostos tóxicos.
• Crianças e idosos: maior sensibilidade aos efeitos tóxicos.
O FDA classifica a fitolaca como uma erva de segurança indeterminada, desaconselhando seu uso na fitoterapia convencional.
A Phytolacca decandra é uma planta de grande potencial medicinal, usada tradicionalmente para tratar doenças inflamatórias e virais. No entanto, seu alto grau de toxicidade torna seu uso arriscado, exigindo cautela e supervisão especializada. Enquanto algumas de suas substâncias, como as PAPs, demonstram promissora atividade antiviral, seu consumo sem orientação pode ser perigoso e até fatal.
Mais estudos clínicos são necessários para confirmar a eficácia da fitolaca e determinar sua segurança no tratamento de doenças humanas.
Referências Bibliográficas
• EGISTO, Eduardo. Medicamentos Homeopáticos de A a Z: Sintomas de A a Z. 2ª ed. 2015.
• FONTES, Olney Leite. Farmácia homeopática: teoria e prática. Editora Manole, 2001.