A percepção do tempo é uma experiência subjetiva que molda a maneira como vivemos nossas vidas. Desde que somos pequenos, nossa relação com o tempo é, em grande parte, diferente da de um adulto. Para as crianças, o tempo pode parecer arrastado, especialmente quando elas estão imersas em atividades divertidas ou esperam por algo ansiosamente. Em comparação, os adultos parecem viver uma sensação de “pressa” em suas rotinas, observando o tempo escorrer entre os dedos de uma maneira que as crianças ainda não compreendem completamente. Mas por que será que isso acontece?
A psicóloga e professora Teresa McCormack, da Queen ‘s University, em Belfast, observa que a percepção do tempo nas crianças é um campo pouco estudado, e muitas questões permanecem sem resposta. Embora se saiba que crianças pequenas, por exemplo, têm uma noção de rotina (como a hora das refeições ou de dormir), elas ainda não possuem uma compreensão completa de conceitos como “ontem” e “amanhã”, tão naturais para os adultos. Elas experimentam o tempo de uma maneira mais fluida, mais moldada pela sensação imediata de prazer ou impaciência, o que pode fazer com que o tempo passe mais devagar em alguns momentos.
McCormack destaca que o processo cognitivo de associar tempo à linguagem é um grande ponto de transição para as crianças. As palavras como “antes”, “depois”, “amanhã” e “ontem” tornam-se mais compreensíveis conforme elas crescem, mas essa compreensão leva tempo para se desenvolver, o que significa que, até esse ponto, a percepção delas sobre o tempo é menos estruturada. Para um adulto, pensar sobre o tempo é uma tarefa que envolve raciocínio lógico e convencional – temos relógios, calendários e uma semântica elaborada para lidar com os anos, meses e dias. Já as crianças estão apenas começando a aprender essa linguagem do tempo.
Outro aspecto que influencia a percepção de tempo é o estado emocional. Pesquisas realizadas por especialistas como Sylvie Droit-Volet, da Universidade Clermont Auvergne, indicam que a experiência do tempo está profundamente conectada com o que sentimos. Para os adultos, por exemplo, momentos de felicidade tendem a fazer o tempo “passar voando”, enquanto períodos de tristeza ou tédio podem fazer o tempo parecer interminável. O mesmo é válido para as crianças, que muitas vezes experimentam o tempo de maneira mais intensa durante momentos de alta emoção. Esse fenômeno é intensificado em contextos de alta atividade física ou mental, como quando as crianças estão brincando ou imersas em uma tarefa estimulante, o que pode criar a sensação de que o tempo é mais lento.
Estudos em psicologia cognitiva, como os realizados por Zoltán Nadasdy, professor associado de psicologia na Universidade Eötvös Loránd, ajudam a elucidar essa questão. Em 1987, ele e sua equipe realizaram um experimento simples, no qual mostraram vídeos de diferentes tipos de eventos a crianças e adultos e pediram para que analisássemos a duração percebida dos vídeos. O que se observou foi uma diferença clara: as crianças tendem a achar que os vídeos de ação, como cenas de perseguição, duram mais tempo, enquanto os adultos, com uma percepção mais estabelecida do tempo, sentem o oposto. A explicação para isso está no fato de que, em estágios mais jovens, o cérebro infantil tem uma capacidade limitada de processar e armazenar a informação de maneira eficiente, e, por isso, experiências emocionais tendem a dilatar a percepção temporal.
Mas o que causa essa dilatação do tempo nas crianças? Existe uma teoria interessante proposta pelo professor Adrian Bejan, da Duke University. Ele sugere que o tempo, para nós, é uma sequência de “imagens mentais”, como quadros de um filme. Quando somos crianças, o fluxo de imagens mentais é mais rápido, o que cria a sensação de que o tempo passa mais devagar. Em contrapartida, à medida que envelhecemos, a capacidade do cérebro de processar e armazenar essas imagens diminui, fazendo com que a percepção de tempo se “comprime”, e, portanto, a sensação de que o tempo passa mais rapidamente.
Além disso, a rotina desempenha um papel importante na maneira como experimentamos o tempo. Para os adultos, especialmente aqueles que já estão estabelecidos em uma vida de trabalho, o tempo parece se arrastar durante momentos de tédio ou trabalho excessivo. Porém, para as crianças, o tempo parece ser mais abundante, principalmente em períodos de lazer ou férias. Como as responsabilidades e tarefas cotidianas ainda não são uma preocupação constante, os momentos de diversão parecem durar mais. Isso é o oposto do que muitas vezes acontece com os adultos, que podem sentir que o tempo foge de suas mãos quando estão imersos em atividades repetitivas.
Na verdade, a quantidade de estímulos que uma pessoa vivencia durante o tempo também influencia como ela o percebe. As crianças, que estão descobrindo o mundo ao seu redor e experimentando novas aventuras constantemente, têm uma percepção de tempo mais prolongada durante essas experiências. Isso se deve à quantidade de informações que o cérebro precisa processar, o que faz com que o tempo pareça mais lento, pois está sendo saturado por novas impressões.
No entanto, essa percepção do tempo pode ser alterada de maneira bastante significativa dependendo do contexto em que a pessoa está inserida. Durante o confinamento, por exemplo, estudos mostraram que tanto adultos quanto crianças sentiam o tempo passar mais lentamente devido à falta de estímulos e à sensação de estresse associada à situação. Experiências como essa demonstram que, seja qual for a fase da vida, o estado emocional e as circunstâncias podem ter um impacto profundo sobre como experimentamos o tempo.
É possível que, à medida que envelhecemos, nos tornamos mais aptos a “ver” o tempo de maneira diferente. Isso, no entanto, não significa que a percepção do tempo seja mais precisa com a idade, mas sim que, com o tempo, adquirimos mais ferramentas para lidar com essa experiência de maneira mais prática e eficiente. Estudos indicam que, ao diminuir o ritmo da vida cotidiana, fazendo novas atividades ou adotando uma abordagem mais leve ao tempo, podemos reviver a sensação de uma infância onde o tempo parecia ser mais lento.
O ponto central aqui é que a percepção do tempo é, em muitos aspectos, maleável. O tempo pode se esticar e se comprimir dependendo da nossa perspectiva, das nossas experiências e, claro, da nossa idade. Talvez, ao aprender a desacelerar e a nos concentrarmos mais no presente, possamos redescobrir a riqueza e a profundidade de uma experiência que, para muitas crianças, já é mais vívida e marcante.