A relação da humanidade com as plantas medicinais é um testemunho da busca incessante por saúde e bem-estar. Entre as muitas espécies utilizadas ao longo da história, Galium album, conhecida popularmente como coalha-leite, destaca-se por suas propriedades fitoterápicas e sua antiga aplicação na coagulação do leite.
Embora seu uso tenha diminuído na fitoterapia moderna, essa planta ainda possui um potencial terapêutico que merece ser revisitado. Neste artigo, exploraremos sua classificação botânica, usos tradicionais e evidências científicas sobre suas propriedades medicinais.
Descrição botânica e habitat
O Galium album pertence à família Rubiaceae, sendo uma planta herbácea de pequeno porte, com caule delgado e folhas pequenas dispostas em verticilos (ou seja, agrupadas em torno do caule em forma de círculo). Suas flores são pequenas, de coloração branca ou levemente amarelada, reunidas em inflorescências delicadas.
Amplamente distribuída na Europa e em algumas regiões da Ásia, a coalha-leite é uma planta ruderal, ou seja, cresce espontaneamente à beira dos caminhos, em prados e terrenos baldios. Seu nome popular faz referência à sua capacidade de coagular o leite, uma característica que já foi aproveitada na produção artesanal de queijos.
Usos históricos e tradição na fitoterapia
Historicamente, a coalha-leite foi amplamente utilizada na medicina popular europeia. Registros indicam que essa planta era empregada no tratamento de doenças do trato urinário, distúrbios hepáticos e condições nervosas, como histeria e insônia (DIEZ, 2003).
Apesar de sua importância no passado, a fitoterapia moderna raramente menciona essa espécie. No entanto, estudiosos como Raymond Dextreit destacaram seu potencial calmante em quadros de câncer, sugerindo que seus compostos ativos poderiam ter alguma ação sobre o crescimento celular anômalo (DEXTREIT, 1985).
Outros autores relatam que o Galium album também foi utilizado na medicina tradicional para tratar infecções urinárias, incontinência e icterícia. Sua infusão, preparada com 15 a 30g de planta seca por litro de água, era administrada para aliviar sintomas dessas condições.
Propriedades medicinais e aplicações terapêuticas
A composição química da coalha-leite revela a presença de flavonoides, iridoides, cumarinas e ácidos fenólicos, compostos bioativos conhecidos por suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias (GÓMEZ et al., 2016).
1. Ação diurética e saúde renal
Estudos indicam que espécies do gênero Galium possuem ação diurética, auxiliando na eliminação de toxinas pelo sistema urinário. Essa propriedade pode explicar seu uso tradicional no tratamento de areia na urina, incontinência urinária e infecções do trato urinário (MOLLER et al., 2019).
2. Efeito antiespasmódico e colagogo
A presença de flavonoides e iridoides confere à planta um efeito antiespasmódico, ajudando a relaxar a musculatura lisa do trato digestivo. Além disso, sua ação colagoga estimula a produção e liberação da bile, auxiliando no funcionamento hepático e na digestão de gorduras (KUNERT et al., 2020).
3. Propriedades antioxidantes e antitumorais
Embora ainda não haja consenso científico sobre a eficácia do Galium album no tratamento do câncer, estudos preliminares apontam que extratos de plantas do gênero Galium apresentam propriedades antioxidantes e antiproliferativas, podendo atuar na inibição do crescimento de células tumorais (ZHANG et al., 2021).
4. Potencial calmante e neurológico
Na tradição fitoterápica, a coalha-leite também foi usada para tratar perturbações nervosas, como histeria, ansiedade e insônia. Esse efeito pode estar relacionado à presença de cumarinas, compostos que modulam a atividade do sistema nervoso central e possuem leve ação sedativa (BOLAND et al., 2018).
O Galium album é uma planta que, apesar de seu uso reduzido na fitoterapia contemporânea, possui um histórico relevante de aplicações medicinais. A ciência moderna começa a validar algumas de suas propriedades, especialmente suas ações diurética, digestiva e antioxidante.
Para que seu uso possa ser melhor compreendido e aplicado de forma segura, é essencial que mais pesquisas sejam conduzidas, principalmente para confirmar seu potencial antitumoral e neurológico.
O resgate de plantas medicinais esquecidas e sua reintegração à farmacopeia moderna pode ser uma alternativa valiosa para a medicina natural. Em um cenário onde cresce a busca por terapias complementares e substâncias menos agressivas ao organismo, estudar e valorizar plantas como a coalha-leite torna-se um caminho promissor.