As plantas desempenham um papel fundamental na medicina popular, sendo utilizadas há séculos para tratar diversas condições de saúde. Entre elas, destaca-se o Solanum aculeatissimum, popularmente conhecido como arrebenta-cavalo, joá-bravo, melancia-da-praia, babá (na Bahia) e kanan-kanan (na Nigéria). Essa planta, pertencente à família Solanaceae, é amplamente distribuída nas regiões litorâneas do Brasil e se destaca por suas propriedades medicinais, especialmente no tratamento de doenças dermatológicas, como o pano branco (Pityriasis versicolor).

No entanto, apesar de seu uso tradicional, o Solanum aculeatissimum apresenta uma toxicidade considerável, sendo necessário compreender melhor seus efeitos e as precauções no uso dessa planta. Este artigo aborda a descrição botânica, as propriedades terapêuticas, os riscos associados ao consumo e as evidências científicas disponíveis sobre essa espécie.

Descrição Botânica

O Solanum aculeatissimum é uma erva espinhosa cujos ramos podem atingir até 50 cm de altura. Sua estrutura morfológica é caracterizada por:

✔ Folhas pecioladas e lobadas, de tamanho relativamente grande, apresentando espinhos tanto na superfície foliar quanto nos caules.

✔ Flores em forma de estrela, de coloração verde-amarelada, agrupadas em pequenos conjuntos.

✔ Frutos esféricos ou levemente achatados na base, com coloração amarela ou verde quando maduros. Sua polpa, de aspecto esponjoso e prateado, possui um sabor doce e contém inúmeras sementes reniformes.

✔ Frutos aderentes ao cálice, com estrias verde-escuras que se tornam mais evidentes conforme amadurecem.

✔ Propagação por sementes, sendo uma planta adaptada a solos arenosos e de fácil dispersão.

Essa descrição é consistente com os registros de Hoehne (1939) em sua obra Plantas e Substâncias Vegetais Tóxicas e Medicinais, que destaca a morfologia peculiar da espécie e sua presença frequente nas regiões costeiras.

Propriedades Medicinais e Aplicações na Medicina Popular

Na medicina tradicional, o arrebenta-cavalo é amplamente empregado para o tratamento de doenças de pele, especialmente em infecções fúngicas superficiais, como o pano branco (Pityriasis versicolor), uma condição causada pelo fungo Malassezia furfur.

O uso da planta é exclusivamente tópico, restringindo-se à aplicação de preparados feitos com o fruto sobre a pele afetada. Além disso, há relatos de sua aplicação contra urticárias e erupções cutâneas, o que sugere uma possível ação anti-inflamatória e antimicrobiana.

Estudos sobre outras espécies do gênero Solanum indicam que algumas de suas substâncias bioativas, como alcaloides esteroidais e saponinas, podem apresentar efeitos antifúngicos e cicatrizantes (SOUZA et al., 1995). No entanto, há uma carência de pesquisas específicas sobre o Solanum aculeatissimum, sendo necessários mais estudos para validar cientificamente suas propriedades medicinais.

Toxicidade e Precauções no Uso

Embora a planta possua aplicações terapêuticas, seu uso requer cautela, pois o Solanum aculeatissimum contém substâncias potencialmente tóxicas.

Segundo Hoehne (1939), os frutos maduros apresentam um sabor adocicado, o que pode levar à ingestão acidental por animais e humanos. No entanto, acredita-se que a toxicidade esteja concentrada nas sementes, uma característica comum em várias espécies da família Solanaceae.

A toxicidade da planta foi observada empiricamente na pecuária. Segundo Meira Penna (apud Hoehne, 1939), cavalos que consomem os frutos podem sofrer intoxicação fatal, enquanto vacas que ingerem a planta transmitem substâncias tóxicas através do leite. Esse efeito tóxico reforça a necessidade de evitar o consumo interno da planta e limitar seu uso apenas ao tratamento dermatológico externo.

É importante destacar que outras espécies do gênero Solanum, como o Solanum nigrum, possuem glicoalcaloides tóxicos, como a solanina e a solasonina, substâncias que podem causar sintomas gastrointestinais severos e efeitos neurológicos adversos (BARROS, 2015). Assim, a precaução quanto ao uso do Solanum aculeatissimum se faz essencial.

O Solanum aculeatissimum é uma planta de grande interesse etnobotânico, sendo amplamente utilizada na medicina popular para o tratamento de doenças cutâneas. No entanto, seu potencial terapêutico precisa ser estudado mais profundamente, visto que há relatos de toxicidade associados à sua ingestão.

Embora existam evidências empíricas que sustentam seus benefícios dermatológicos, recomenda-se que seu uso seja restrito à aplicação externa e sob orientação adequada. Estudos científicos adicionais são necessários para isolar e compreender os compostos ativos presentes na planta, garantindo maior segurança no seu uso medicinal.

Diante disso, ressalta-se a importância da pesquisa interdisciplinar envolvendo botânica, farmacologia e etnobotânica, a fim de validar e regulamentar o uso do arrebenta-cavalo como recurso terapêutico.

Referências Bibliográficas

• BARROS, José Flávio Pessoa de. A floresta sagrada de Ossaim: O segredo das folhas. Pallas Editora, 2015.
• BUNN, Karl. Glossário da Medicina Oculta de Samael Aun Weor. Editora Samael Aun Weor, 2012.
• HOEHNE, Frederico Carlos. Plantas e Substâncias Vegetais Tóxicas e Medicinais. Departamento de Botânica, 1939.

• SOUZA, Julio Seabra Inglez; PEIXOTO, Aristeu Mendes; TOLEDO, Francisco Ferraz de. Enciclopédia Agrícola Brasileira: I-M. EDUSP, 1995.